Ele usa uns olhos lânguidos, dir-se-ia que em cada um há um animal que se espreguiça com todas as linhas do corpo. É-me usurpada toda a coerência por um momento, ele olha-me de baixo e desde o amendoado dos seus olhos picados de vermelho e eu perdi o cozinhado das palavras, a razão pôs-se como um sol de renda atrás de um muro velho, a impressão que me fez quase correr pelas ruas alivia-se como se tivesse parado o granizo sobre vidros, tem as mãos demoradas sobre as pernas largadas ao chão, estou atada à sua figura, ao seu rosto sublime, quero arredar-me do delírio mas estou suspensa e sem timão, ele continua a olhar-me como se exalasse as próprias estrelas e eu, sem efectivamente olhar em redor, dobro-me e beijo-o.
Gabriela Ludovice