Culta, educada, sempre bem vestida e penteada, Ana Maria destacava-se entre as mulheres da próspera cidade onde vivia. Participava dos eventos culturais, exercia com desvelo seu dom filantrópico nas quermesses da Igreja, nas festas que angariavam fundos para escolas e asilos. Aos domingos, depois da missa, desfilava na praça, ao lado do marido e da filha única, elegantemente trajada, cumprimentava uns e outros, cheia de simpatia.
Ana Maria, assim sem mais nem menos, começa a se esquecer de nomes, feições e fatos. Eram as primeiras manifestações de uma doença degenerativa da mente. Com o passar do tempo não mais reconhecia as pessoas, nem mesmo as mais próximas. Perdeu os movimentos, a fala, vontades e desejos. Há quinze anos, divide as horas entre a cadeira de rodas e a cama. Os olhos perderam o brilho. Os dentes se foram. As mãos não levam uma colher à boca.
Não está mais ali a Ana Maria de outrora. Outra alma ocupou seu corpo e, como erva daninha, suga-lhe o resto do tronco.
Sônia Bonzi