A última mulher

Ela sentia tanto pudor que evitava despir-se na sua presença. Um pudor desmedido, observou ele. Um pudor que ocultava, podia se dizer, algum mistério. Por fim lhe deu as costas, tirou a blusa e se voltou mostrando-lhe os seios pontiagudos, ainda que cruzando os braços na altura do abdômen. “Está vendo?”, disse sem olhá-lo. “Nenhum homem viu isto antes”, e lhe mostrou em seguida seu assombroso corpo sem umbigo.

“Quando nasci – contou – não foi necessário cortar o cordão umbilical. Puxaram por ele e meu umbigo limpo e inteiro foi arrancado do ventre. Meu pai me chamou Eva, como a primeira mulher que, ao nascer da costela de Adão, também carecia de umbigo. Minha mãe se assustou e, num ataque de superstição, exclamou que se a primeira mulher nascera sem umbigo, agora eu podia muito bem ser a última.  Os médicos riram muito, e até que na ala oposta não nascesse a menina seguinte, uma incerteza – não sei se exagerada, reinou naquele hospital.”

Ele escutou seu relato em silêncio e riu das mesma forma que os médicos. Depois percorreu com a língua o ventre liso e amou-a como se realmente fosse a última mulher na terra.

Do livro “La vida imposible” (editado por Emecé España y Emecé Argentina en 2002), de Eduardo Berti.

Tradução de Patrícia Melo

Patrícia Melo