Dentro da selva existe um animal semelhante a um jaguar, cujas pintas são feitas de canções sagradas. Chamam-no asyda e é o animal do tempo. É ávido por anos e o que ele faz é caçar os dias, a juventude (que está cheia de tempo), os anos. Assim tudo envelhece, porque o jaguar sem tempo não tem tempo, e quando acaba cada uma das suas caçadas – que demoraram, para cada presa, uma vida – deixa apenas umas peles enrugadas ou uns ossos prestes a morrer. Ou somente um punhado de terra.
Afonso Cruz