A Universidade da Vida | Cristina Carvalho

É boa, mas não chega! Tem bons mestres, mas não chega! A universidade da vida, ou seja, subentendendo-se um longo caminho já palmilhado, ensina algumas coisas, traz a atenção de certas atitudes, prevê desgraças previsíveis, atenta em quase todas as reações, percebe, ao longe, intenções de variada natureza. O longo caminho da vida adivinha muita coisa e não se deixa enganar com facilidade. Mas não chega!
Servirá de pouco no que se refere a conversas mais ou menos elaboradas e filosóficas porque a experiência de cada um conta muito para um todo, mas conta pouco, individualmente. Individualmente é apenas uma experiência que, a longo prazo, poderá frutificar ou não. Sem conhecimento teórico não se vai a lado nenhum. É esse estudo, esse aprofundar do conhecimento teórico que faz com que saibamos aplicar a nossa própria defesa, que faz com que saibamos escutar outras opiniões. É esse conhecimento teórico que faz com que saibamos usar a tolerância e não desperdicemos o amor que temos para dar. Podemos olhar para muito longe se não desprezarmos a cultura, a leitura, o que outros estudaram e nos transmitiram com boa vontade e sempre no intuito de ser útil. Podemos avançar se tivermos confiança na Ciência, se nos lembrarmos que, se estamos por aqui a viver rodeados de tanta tecnologia, de tanta descoberta em diversos campos de atuação – médica, social, urbana, cívica, agrícola, em suma, universal – é porque alguém não se ficou pela universidade da vida. Frequentou outras universidades. Se não quisermos aceitar todas estas transformações – e só no século XX foram incontáveis! – podemos sempre evitá-las indo viver para o alto dum monte rodeados de cabras monteses aos saltos de pedregulho em pedregulho em busca de alimento, aspirando o ar gelado das noites de inverno, amolecendo nos dias quentes do verão e comendo bagas. Podemos! Mas cá em baixo, no sopé do monte, criaturas espevitadas, ágeis e inteligentes velam para que, se adoecermos, alguém possa dar um aviso e enviar um helicóptero para nos salvar. Ninguém é indiferente à indigência e à morte.
Devemos ouvir e ler e olhar apenas o que vale a pena e esse “valer a pena” é altamente subjetivo ainda que os conceitos e padrões culturais estejam, há muito, bem definidos. Para ser prosaica, direi que “quem gosta do amarelo, não pode gostar do azul” e quem diz que já aprendeu tudo o que havia para aprender uma vez que andou na universidade da vida porque já tem muita idade, demonstra apenas ralo saber. Também a frase “um burro carregado de livros é um doutor” tem a sua razão de ser. Burros carregados de livros é o que há mais. Cavalos sem sela e sem arreios há poucos e os que existem galopam livremente por todos os campos do saber. Se for caso disso, deixam-se acariciar e até montar!
Ao perpassar por todas estas questões, interrogo-me sempre, para que lado uma pessoa se deve voltar. Se estudar, ouvir, ler, participar, conhecer ou se, por outro lado, seguir um caminho mais fácil e seguro, um caminho definitivo e, em situação saudável, um caminho certeiro ainda que com altos e baixos, daquelas veredas que conduzem, inexoravelmente, ao fim da vida e aceitar tudo “isto” tal como é.
É que, na verdade, todos se encontram com razão. A verdade é essa! A razão é de cada um. A razão é sempre de cada um! Portanto, quando dizemos que isto ou aquilo não presta, que não tem interesse nenhum, que não se aprende nada, não é verdade! Se há questões difíceis de aceitar, esta é uma delas: eu não gosto! Como é que tu gostas? Não acho que preste! Como não presta? É magro? Não! É menos gordo! É gordo? Não! É menos magro!
Depende, unicamente, do ponto de vista do indivíduo.
Não me venham é com conversas da “universidade da vida”! Isso é que eu não aguento!
Aguentas? Aguento!!
É a nossa geocentricidade!
Eu sou sol. Tu, sistema solar.

CRISTINA CARVALHO
Crónica de Janeiro 2012