Nunca foi tratada assim por ninguém, mesmo o convite para que ela o acompanhasse ao apartamento foi muito natural. Até aquele momento, além de um toque de dedos, um ou outro olhar mais indiscreto, nada mais havia acontecido. Tudo muito sutil e indireto, igual à poesia que ouvira e gostara muito: seus seios/olham meus lábios/tesos/num rigor militar//meus lábios anseiam seus seios/úmidos/num sutil transgredir/de olhar//:se tocam/apesar da distância/e das metáforas. Agora, aquelas palavras ouvidas, com o mesmo carinho com que a tratou na cama: se você ficar tem comida e bebida na geladeira. Queria ter os lábios dele beijando seu corpo, o grito que não conseguiu segurar, o corpo caindo no vazio e o sono. Um milhão de vezes… convulsionar. Acordou com o barulho de buzinas, ele lhe havia dito algo sobre a reunião. Lembrou-se apenas do horário. Procurou afastar a vontade de ir até a sacada e gritar que estaria ali quando ele retornasse, foi sempre muito instável, poderia mudar de idéia de uma hora para outra, desde criança evitava se ligar às pessoas a ponto de precisar delas… e a paixão trazia essa dependência a tiracolo…
(continua)