A porta fechou um mundo e abriu outro. O ruído de chave girando na fechadura deixou definitivamente uma das montagens de sua vida para trás. Sentia-se cansado desse abrir e fechar de destinos, do jogo de poder que gerava crises nas relações a dois. No corredor, um tapete amarelo-ouro forrava o soalho estreito e cheio de portas. Em cada uma das entradas, do mesmo tamanho e da mesma altura, um olho espiava e deformava rostos. O interior a observar o exterior, a decidir quem tem direito de atravessar os vãos. Parou esperançoso de encontrar algo novo, alguma surpresa, o som ou o cheiro de algum mistério. Ouviu somente os gritos vindos de dentro, criaturas de Baltasar, repetitivas, agiam como se a madeira e os gonzos fossem simples objetos de carpintaria. Um ruído forte e seco no outro corredor afugentou os sons, balançou os delicados lustres dourados que se alternavam com extintores de incêndio e gravuras construtivistas dependurados na parede pintada em um amarelo mais brando. A seta vermelha e um leve estalido fez com que saísse daquele marasmo a passos largos para não perder o elevador. Descer para o inferno…
(continua)
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