A mulher acompanhou todo o movimento do homem que conhecera na noite anterior através do olho mágico. Tão logo desapareceu, voltou-se para a sala. Apalpou o próprio corpo, algumas peças que estavam sobre os móveis e o tecido da poltrona. Experimentou a estranha sensação de conhecer há muito mais tempo alguém que entrou em sua vida a pouco mais de dez horas. Então era verdade, podia apaixonar-se, o que é do tempo nesses momentos? Jogou-se sobre o sofá para rememorar cada minuto vivido desde o início. Encontraram-se na rua, acabava de sair de uma loja, cheia de pacotes. Ele se ofereceu para ajudá-la. Coincidência ou não, haviam estacionado no mesmo local. Aceitou o convite para jantar. A escolha do restaurante foi dele, uma cantina italiana escondida em uma ruela florida e mal-iluminada. Disse que gostava do local, que lhe trazia lembranças de Spello, uma pequena cidade da Itália. Não a deixou escolher o prato, pediu talharim ao molho de salmão e um vinho San Gigminano, fez questão que fosse safra do ano. O sabor da comida, como um perfume francês, permanecia na memória. Seria difícil esquecer a noite que passaram juntos.
(continua)
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