O gringo, o marido da húngara que se apaixonou pelo pernambucano, sabia tudo o que falavam de Cristo, conhecia cada sentido bíblico. Trabalhador exemplar, treinava brasileiros em uma multinacional. A guerra não lhe deu outra opção, era pegar ou largar. Perdeu dois filhos na viagem, foram lançados ao mar. Submergiam em sonhos. Ninguém soube como o caso da mulher chegou até o ouvido do homem. Um dia ele resolveu parar para conversar, falou de coisas fúteis. O tremor nas pálpebras parecia um aviso. O italiano não se cansava de dizer que na terra dele homem era homem, mulher era mulher – um pouco fora de época, hão de concordar -, e naquela situação alguém tinha de morrer. Mas a passividade do homem intrigava, o que levou os amantes a abusarem da sorte. Um dia tinha de acontecer. Aposentou os mandamentos. Sentiu ódio de Noé por ser um incluído, de Deus por ter abandonado Cristo à sua sorte, e matou os dois. Isso mesmo, o tiro entrou pela têmpora do amante. A mulher apanhou antes de morrer, estava cheia de hematomas. Talvez quisesse morrer assim, pelas mãos do marido.
(continua)
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