Há vários anos, a História da Literatura Portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes foi-me oferecida por Francisco Monteiro como sendo a melhor história da literatura portuguesa em vigor. Afiançou-me também que a obra valia logo pelas introduções das épocas, com concisa e fortíssima contextualização histórica, social, política, económica, artística e literária. Ele, que ensinava música, usava-as nas suas aulas.
Para além das contextualizações, estão lá sintetizados os principais autores e obras de todo o percurso literário português e muitos são analisados com demora. Vale a pena, por exemplo, rever as entradas relativas a Agustina Bessa-Luís, José Cardoso Pires, Almeida Garret ou Alexandre Herculano. Trata-se de um trabalho extenso e refeito ao longo dos anos, que, com excepção da parte relativa à época contemporânea (escrita apenas por Óscar Lopes), foi realizado a dois.
É verdade que a ideia que lançou a obra partiu de António José Saraiva, no final dos anos quarenta. Depois disso, sucedeu-se um período de três anos de reflexão. A primeira edição saiu em 1953. Transcrevo a quase epígrafe do livro: “Este livro testemunha mais de quarenta anos de amizade viva, firme e produtiva, entre duas pessoas cuja diversidade de opiniões apenas fomentava a mais viva e contínua discussão acerca dos textos ainda aqui presentes, e questionados até ao limiar imprevisível da morte”.
Este limiar surgiria em 1993 com o falecimento de António José Saraiva. Estava, então, a parceria desfeita. E, a partir de Abril passado, com o desaparecimento de Óscar Lopes aos noventa e cinco anos, a obra está fechada.
Óscar Lopes era irmão de Mécia de Sena (casada com Jorge de Sena). Foi crítico literário, ensaísta e professor jubilado da Faculdade de Letras do Porto. Apreciava música e estudou no conservatório. Tinha, sobretudo, uma visão eclética e holística sobre o fenómeno literário e cultural.
Este acontecimento marca, de alguma forma, o fim de um período. Outros terão de continuar o aprofundamento deste trabalho de revisitação da história literária dos séculos anteriores e tentativa de compreensão do século actual. E terão de o fazer tão bem quanto os seus antecessores.
António Pacheco