HAJA AMOR E VIVA A TRAIÇÃO – TRISTE!!?! | Rui Sobral

O desejo tinha outro nome. Um nome vulgar. Um nome de fêmea. Ele acabara de se render a vontades escondidas em sonos vivos de noites passadas.
O pulso evidenciava um bater acelerado e ele, destemido, desabotoava o colarinho da camisa branca que a sua mulher havia engomado cuidadosa e carinhosamente. Ele, ornamentado com ela – a camisa branca engomada pela sua mulher, estava prestes a cometer adultério.
Sete fugazes minutos depois, os sexos encontravam-se, os suores e os odores perpetuávam o pecado. As salivas, num júbilo cru e sem igual, escorriam daquelas bocas sedentas de carne.
Ele, enobrecendo o selvagem que há em cada um de nós, consumou o acto e no fim, a deslealdade já estava tatuada na sua pele.

Na essência do Homem – como animal que é, o respeito ao companheiro de vida é coisa inaceitável. Entenda-se que o erro está no compromisso através da palavra – dita ou escrita. No universo dos casais – géneros à parte, as promessas de fidelidade e respeito ímpares não coincidem com a realidade da nossa identidade. Nós, homens e mulheres, somos animais e sim, é possível ser fiel ao sentimento “amor”. Simplesmente é contranatura.

A traição acontece. De forma propositada ou inconscientemente elevada ao expoente maior do desejo, a traição acontece. Não se procurem razões, não se procurem evidências. Fim às culpabilizações! Há que aceitar que o nosso ADN celébra a satisfação e que o sexo é sujo – haja amor ou não, e que o desejo também é matéria instintiva. Por mais que se queira mascarar prevaricações, a ansiedade é coisa patente na problemática da libido.

De verdade, o amor também acontece e é estupidamente belo. Louco. Eis a analogia: no sentido literal do amor, o respeito é consequência eminente e a falsidade é antónimo do respeito. Sendo a falsidade o pai e a mãe da infidelidade, trair é não respeitar, portanto, quem trai não ama e quem ama não trai.
Coisa chata, esta do sentido literal.

É possível amar. Amar faz bem a quem ama e a quem é amado. É possível ser fiel. É possível respeitar mas muitos, senão todos, sucumbam à inconfidência. Sucumbem à batota.
Para amar é preciso negar os desejos naturais que carregamos em sonos todas as noites.
Que a inglória satisfação do ser não nos arranque do leito da mentira.

Rui Sobral