Mensagem – comentada por Miguel Real

A “Mensagem” é uma obra poética contaminada por um espírito heróico, determinada por um universo semântico de vocábulos de origem sagrada e destinados a exaltar uma pátria decadente.

Fernando Pessoa acreditava que Portugal estava a viver uma suspensão do tempo histórico, ao qual regressaria para cumprir a sua missão de instrumento divino na criação de um V império. Um império que não seria material ou territorial, mas espiritual e que regeria a totalidade da existência humana. As dores do império material, baseado numa errância marítima e guerreira, cederiam lugar ao domínio do espírito sob a força bruta. Nesse passado de domínio guerreiro já existira o propósito de erradicação de toda a guerra.

Fernando Pessoa coloca o acordar de Portugal, não numa data precisa e distante, mas quando Deus assim o entender. Será por esse apelo divino que se cumprirá Portugal. O Encoberto ser-nos-á então enviado.

Este povo, que venceu o medo medieval do mar, vê-se transformado em cadáver adiado que procria. Urge pois: Chamar Aquele que está dormindo / E foi outrora Senhor do Mar.

Miguel Real oferece-nos uma leitura lúcida e inteligente deste belíssimo poema, respeitando-lhe a alma, permitindo ao leitor apreender, em toda a sua extensão, a simbologia e misticismo de que está impregnado. As ilustrações de João Pedro Lam dão ao livro um aspecto menos pesado, fazendo-nos abstrair do lado académico e mais formal desta obra.

Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.

Esta obra integra  Plano Nacional de Leitura para o Ensino Secundário.
Publicado no Acrítico, leituras dispersas.

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