Narciso e biombo
Um o outro ilumina
Branco no branco
Matsuo Bashô
Sendo a sombra da sombra duma alvura
mais branca que a brancura, dia-a-dia,
cujo branco no branco é sombra pura
que depura o sentido que irradia;
sendo o branco no branco o sol a pino,
solstício de verão, paleta viva,
beleza que o sol transforma em hino,
um hino que a luz converte em vida;
sendo a sombra da sombra como a estrela
cadente que traceja e arrefece
num rasto luminoso, a sequela
da rútila visão quando perece,
sobre a sombra da sombra, eis a penumbra
cujo branco no branco me deslumbra.
Domingos da Mota
[inédito]