O homem pensou que se resolveria no trânsito, quer dizer, que as ideias ficariam alinhadas e quando chegasse a casa, por fim, teria uma ideia concreta sobre o que fazer. Era sexta-feira. Os carros em fila na auto-estrada mostravam coisas distintas: mulheres a retocar o baton, utivos ao telefone, casais em silêncio, casais a discutir, miúdos chateados no banco detrás, amarrados a cintos com bonecos.
O homem ponderou no seu corpo, na atitude que assumia perante os outros, no dia-a-dia, todos os dias. Sentiu-se estranho e não conseguiu concluir nada. O corpo não lhe permitia muito mais do que avançar, automático, pé no acelerador, pé na embraiagem, travar. A cabeça? Vivia a vida dos outros.
É sempre mais fácil viver a vida dos outros.
Patrícia Reis