“Foi na economia que o contributo judaico foi mais importante, graças ao conhecimento da realidade europeia, à rede de contactos familiares e comunitários que os judeus aí detinham e às línguas que dominavam. Eram muito activos no comércio, nomeadamente nos tecidos, onde serviam de intermediários entre os mercadores europeus e orientais, tendo sido igualmente pioneiros na indústria têxtil otomana. O seu poder financeiro permitiu‑lhes a entrada na administração fiscal, nomeadamente alfandegária. Bernard Lewis conta que a presença judaica nas alfândegas era tão importante que os arquivos de Veneza conservam até hoje numerosos documentos escritos em caracteres hebraicos, na sua maioria recibos passados a mercadores venezianos que negociavam com o Levante.
Muitos sefarditas ocuparam também as funções de «homens de negócios» de altos funcionários otomanos, gerindo as suas finanças quando aqueles eram nomeados governadores provinciais. Segundo alguns testemunhos, os refugiados da Península também foram úteis na arte da guerra. Nicolas de Nicolay, viajante famoso que visitou o império em 1551, escreveu: « …Marranos há pouco banidos e expulsos de Espanha e de Portugal… em detrimento e grande dano para a cristandade ensinaram ao Turco vários inventos, artes e máquinas de guerra, como fazer artilharia, arcabuzes, pólvora para canhão, balas e outras armas.»
Tolerância ou pragmatismo?
De uma forma geral o mundo muçulmano e, em particular, o otomano mostrou mais clemência do que a cristandade no seu comportamento face aos judeus. Mas esse comportamento nada tinha a ver com o que hoje apelidamos de tolerância, conceito que, aliás, não existia na época. Estava mais relacionado com a necessidade pragmática de lidar com as numerosas minorias existentes no seu vastíssimo império multiétnico e multirreligioso e com as suas próprias necessidades económicas e administrativas. Um ditado turco exprime essa ideia com clareza: «Não há Estado sem exército, não há exército sem dinheiro, não há dinheiro sem bons súbditos, não há bons súbditos sem justiça e sem justiça não há Estado.». À sua chegada a Istambul, Dona Grácia teve de providenciar imediatamente um empréstimo de dez mil ducados. A minoria judaica e nomeadamente os sefarditas da Península representavam na época numerosas vantagens para o império: traziam com eles capitais necessários ao país, o que lhes permitia gerar riqueza, dispunham de conhecimentos e qualificações em importantes domínios como a medicina, a tipografia, a artilharia e a navegação, conhecimentos úteis para a guerra por terra e por mar. Conhecedores dos assuntos europeus, eram conselheiros necessários e leais nas relações do império com as potências do Ocidente. A família Mendes/Nasi reunia grande parte dessas características. Quando Dona Grácia se instala na Turquia, reinava então…”
Ficha Técnica:
Autora:Esther Mucznik
Título: Grácia Nasi – a judia portuguesa do século XVI que desafiou o seu próprio destino
Colecção: História Biográfica
P.V.P: 23 €
ISBN: 978-989-626-244-0
Páginas: 208 + 16 extratextos
Formato: 16 X 23,5 / Cartonado
Data de lançamento: Setembro
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