Quando os meus olhos disserem adeus às coisas últimas
e atirarem um derradeiro aceno às palavras que me cercam
não sei se a consciência terá a lucidez para escrever ainda
um verso inteiro ou mesmo partido pelo ângulo agudo da vertente
onde me deitei sobre sonhos e sonhos.
Sei que gostaria, no adeus da despedida, ouvir a voz da aurora
a ressoar num cântaro junto à fonte
o encaracolar das rolas nas árvores quentes de ser estio
e o azul descansado do fim do sol numa carícia solitária de intimidade.
Quando os meus olhos se fecharem para a imensidão de ser eu
uma partícula ínfima de nada
uma voz de berço podia vir de mansinho
fechar-me os olhos como um beijo
para eu partir na ilusão de que mesmo na imensidão do vácuo
a música não cessa no corredor das rosas cerceadas.
maria isabel fidalgo
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