Soneto familiar | Domingos da Mota

 

 

Minhas duas irmãs éramos três,

minha mãe e meu pai éramos cinco.

Armando Pinheiro

 

Os meus catorze irmãos éramos quinze,

dezassete juntando a mãe e o pai.

Haverá quem aprove e quem ranzinze

e torça o nariz e até vaie

 

e vitupere a prole numerosa

e à medida que o tempo for passando

nem repare na via dolorosa

dos idos ao que vai continuando.

 

Meu pai e minha mãe já nos deixaram;

dos irmãos que me restam, conto cinco

e todos, a seu modo, porfiaram

e persistem ligados pelo vínculo

 

que alarga ou aperta – ajusta os laços

consoante  a premência dos seus passos.

 

Domingos da Mota

[inédito]

Das Letras

Share
Published by
Das Letras

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago

Marcos Barrero, poeta de coração paulistano | Adelto Gonçalves

I A exemplo do que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) disse do poeta argentino Rodolfo…

7 anos ago

Em homenagem a Cassiano Nunes | Adelto Gonçalves

                                                    I         Primeiro de uma série de cinco volumes, Poesia - Obra Reunida (Brasília: Universidade de Brasília/Thesaurus Editora,…

7 anos ago

Desvão de Almas, Miicrocontos, Editora Penalux, SP | Silas Corrêa Leite

O professor Silas Corrêa Leite, jornalista comunitário, conselheiro diplomado em direitos humanos, ciberpoeta e blogueiro…

7 anos ago