Soneto | Domingos da Mota

 

 

Um verso que desperta, inopinado,
dá passagem a outro, clandestino,
em busca dum terceiro, mais ousado,
ou dum quarto com ar de peregrino,

e seguem o percurso adequado,
por muito que o sexto, valdevinos,
reaja contra o sétimo, excitado,
e levante uns bramidos sibilinos.

Mas assentes as coisas, lá se vão,
até que aparece um que sublinha
o travão implacável que o terceto

impõe a quem avança em contramão:
um freio que provoca e desalinha
o derradeiro verso do soneto.

Domingos da Mota

[inédito]

Das Letras

Share
Published by
Das Letras

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago