Saio devagar‏ | Maria Isabel Fidalgo

 

 

Saio devagar do teu corpo
como se lá não tivesse estado
e tento distrair-me das tuas mãos
e até das minhas
estas mãos inúteis que tocaram
com veludo de teclado
a dor antes do amor.
Saio devagar de uma longa ferida
como galho sem árvore esborrachado no chão.
Podia dizer ave mas tenho as asas ceifadas
e ave ou galho é igual neste caso:
galho ou ave é a chave
que não dá a volta ao trinco enferrujado
da casa desabitada.
Saio devagar do teu corpo
onde nunca estive sem que não doesse
antes do amor
e onde chorei depois dele
sem que tu visses.

maria isabel fidalgo

Das Letras

Share
Published by
Das Letras

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago