REALIDADE | Soledade Martinho Costa

 

 

Olho em redor
Mal desperta
O dia acordou mais cedo do que eu.

Pela cortina entreaberta da janela
Vejo o céu
Onde as nuvens galopam
Sem dimensão nem tempo.

Navego os olhos
Pelo branco das paredes
E paro a imaginar-me
Estrela-do-mar ou búzio
Quando os meus olhos se perdem
Nas imagens
Por detrás dos vidros
Onde alguém pintou esses segredos.

E logo os pensamentos
Num tropel
Invadem o meu espaço
O meu refúgio
Como se fosse um mar em tempestade
A inundar de pranto o areal.

Visto-me então da força que resiste
Faço o retorno dos sonhos que são idos
E assim fico sem bússola, sem norte
Sem farol que me oriente os passos
A suster com o coração o temporal.

Soledade Martinho Costa

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