Paris uma vez | Maria Isabel Fidalgo

No centro do coração estava Paris
Paris das boulevards apetecíveis
em cada esquina, em cada rua, em cada centro
por acaso, no Centro Pompidou, foi bom
olhando ao acaso as acrobacias dos que por alí buscavam
o prazer do ócio parisiense em bancos de chão.
Mas o melhor no centro foi o museu de cera animada
e Vitor Hugo à entrada, vivo de apetecer
Ah, les misérables!
e depois o Louvre e depois Montmartre
onde me entretive regalada
a ressuscitar
artistas e intelectuais libertários.
Ah! Dégas, Cézanne, Monet, Van Gogh, Renoir Toulouse-Lautrec .
Vi Paris pelos meus olhos
pelos meus olhos entrava a cidade princesa
faiscante de luz .
À noite, vi o Sena iluminado de vento
com um mortalha fria ao luar
e lembrei-me do poeta:
“Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena.
E os olhos iam com as águas….”
Eu vi Paris no centro do coração com o coração a doer
o coração quase um rio
e os meus olhos iam com as águas.

Paris,1983

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