dizes saber de cor o rio que corre em frente da tua janela
dizes que as cantigas da água são sempre líquidas e insípidas
e que do canto das aves resta só o verde do musgo nas pedras.
esperas da noite a prata da lua que te cega as mãos
e escreves à toa poemas de vidro que se quebram
ao primeiro contacto com a dolência da tua voz.
mistura na paleta: o rio, o canto das aves
o feitiço da lua e todos os estilhaços do poema.
não esqueças os homens do barco, ao longe.
deixa repousar por algum tempo. não muito.
agora pinta uma paisagem nova para os teus olhos
na esquadria refeita de uma janela com vista para o sonho.
Lídia Borges