O Silêncio | Domingos da Mota

 

 

as intempéries talharam este rosto.
de chama. calcinada.
o seu silêncio é um latido do tempo.

António Ramos Rosa

 

Percorro as artérias do vazio, as veias
do silêncio laceradas: desvendo cicatrizes
calcinadas na lenta combustão

do fogo-frio. Despojos de fulgor?,
do desvario?, as rugas, as raízes magoadas
que suam, que resistem, secas, magras,

nas águas apagadas, em pousio. Rechina
o queimor da cal silente: esfarela, esfola
a terra, coalescente escorre sobre o corpo,

o corpo todo. Exausta, fatigada a terra
estua, e morde e bebe a sede e acesa
e crua conjuga o silêncio até ao osso.

Domingos da Mota

Das Letras

Share
Published by
Das Letras

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago