Ninguém | Domingos da Mota

Há-de chegar o dia em que ninguém

se lembrará de ti – e, de passagem,

quase todos depois serão também

esquecidos no meio da voragem

que aprofunda a imensa desmemória

e mesmo que algumas das pegadas

tenham marcas visíveis, nem a história

deverá discernir de que passadas,

de quem era o pé ou o sapato

que deixou por ali aquele indício,

se fugia ou caçava ou se de facto

se lançou ou caiu no precipício

por acaso ou descaso ou livre-arbítrio

ou vítima das hastes do delírio.

 

Domingos da Mota

 

[inédito]

 

(tendo, como pano de fundo, a Ladainha dos Póstumos Natais, de David Mourão-Ferreira)

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