Moscas | Domingos da Mota

 

 

As moscas vão mudando, e o cheiro é tanto
que tresanda a mil léguas de distância;
e a causa do fedor pode entretanto
focar-se num detalhe que a abundância

de moscas que volteiam por aí
não deixa de picar se uma promete
a diferença de tom, da coisa-em-si,
do rumo que no fundo a compromete.

As moscas vão mudando, e a dose até,
consoante a avidez da moscaria,
pode ser a razão do finca-pé

que se rebaixa mais do que seria
legítimo esperar do rapapé
que distingue a mais alta vilania.

Domingos da Mota

[inédito]

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