madrigais de pássaros
baloiçam desatentos
nos ramos da magnólia
estou aqui do lado de dentro
desta manhã de maio
e sei que maio é atemporal
maio tem hoje o rosto sereno
da eternidade.
chegam-me de longe
através da janela aberta
sons distintos: o latido de um cão
o ronco abafado de um motor
em fúria a rolar na pressa circular
de insaciáveis relógios.
o rugido das máquinas
e a agonia dos homens
irmanam-se num esforço heróico
mas inglório. prosaica a ideia
deste novo “mundo novo”
escrito de novo de um lado a oiro
e do outro a dor e servidão.
ao longe, muito ao longe
o imprescindível absoluto
de todas as coisas prescindíveis
urra e grita e sangra e luta e sofre…
estou aqui do lado de dentro
desta manhã de maio clara e terna.
minha para sempre, esta manhã de maio
e eu para sempre nela
ébria de claridade e de ternura.
Lídia Borges
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