Licínia Quitério, em Os Sítios

Quem te disse, meu amor de mar,
meu leão de maré, minha onda antiga,
meu cavalo marinho, minha espuma da noite,
minha flor afogada, meu cofre de ametista,
minha vertigem, minha corda bamba,
minha ponte, meu mirante, meu verso branco?
Quem te disse das mãos de cinza pela tarde,
do sal da boca pela manhã, dos olhos
nas esquinas, do cheiro a febre do outono,
das colheitas sempre por fazer, do vinho,
da cor do vinho, do doce vinho da paixão,
do espanto, do terror, da ira dos terramotos?
Quem te disse, meu amor, mentiu.
Verdade és tu e os teus sentidos,
os teus pressentimentos, os teus sonhos,
o teu olhar de fera ou o teu olhar de pomba,
o teu desejo em fonte ou o teu desejo em fogo,
O resto, os mundos saberão se aconteceu.

Licínia Quitério, em Os Sítios

Das Letras

Share
Published by
Das Letras

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago

Marcos Barrero, poeta de coração paulistano | Adelto Gonçalves

I A exemplo do que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) disse do poeta argentino Rodolfo…

7 anos ago

Em homenagem a Cassiano Nunes | Adelto Gonçalves

                                                    I         Primeiro de uma série de cinco volumes, Poesia - Obra Reunida (Brasília: Universidade de Brasília/Thesaurus Editora,…

7 anos ago

Desvão de Almas, Miicrocontos, Editora Penalux, SP | Silas Corrêa Leite

O professor Silas Corrêa Leite, jornalista comunitário, conselheiro diplomado em direitos humanos, ciberpoeta e blogueiro…

7 anos ago