Lembrança | Domingos da Mota

 

 

Se depois de passada a vida a limpo,
com sabão ou lixívia ou aguarrás,
eliminando as nódoas do garimpo
ou doutros veios sujos, for capaz
de atingir claramente o desapego,
ainda que o presente e o passado
possam acumular desassossego
perante o ambiente ameaçado;
se depois duma vida que decorre
até que chegue ao fim e que pereça
o sopro reduzido, pois quem morre
não deixa que o fôlego aconteça;
se depois disto tudo houver lembrança,
que tenha com a vida semelhança.

Domingos da Mota

[inédito]

Das Letras

Share
Published by
Das Letras

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago