Impossível não amá-la | Lídia Borges

 

 

por mais que se saiba graníticoo chão desta terra que nos tem

impossível não amá-la.

 

é nestas oliveiras, nestes penhascos

nestes campos abertos aos ventos

aos corvos aos fenos

que os pássaros

celebram a luz nascente da manhã.

 

por mais que se queira

um coração secretamente fechado

há sempre um fresta

por onde se adentra a poesia.

 

um “parlar materno”

não por ser língua-mãe, apenas

mas pelo dizer menino que nos

faz soar aos ouvidos a água

o trigo, o abraço, a flor, o trevo, o riso…

 

por mais que se saiba granítico

o chão desta terra que nos tem

impossível não amá-la

assim curvada ao peso

de noites e noites sem sonhos.

 

e a poesia como um xaile de luz

amorosamente

traçada sobre o seu peito de brumas.

 

impossível não amá-la.

 

Lídia Borges