Amor que seja amor, amor somente;
que arda como o sol em carne viva;
que surda como o silvo da serpente,
prenúncio de paixão mais abrasiva;
amor só por amor, amor que seja
o sal que se alimente da ferida
aberta pelo fogo que deseja
o ar da labareda apetecida;
amor que atinja mesmo o seu contrário,
e perante a ameaça que introduz
o ódio tantas vezes corolário
das trevas como sendo a própria luz,
amor que seja mais do que semente
e possa até morder, ferrar o dente.
Domingos da Mota
[inédito]
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