Desço pela margem da memória | Maria Isabel Fidalgo

 

Desço pela margem da memória

e entro pelo cais do rio

onde havia o ouro das manhãs

e o sorriso lavado do vento

lento na mansidão matinal.

Havia o dorso molhado da água apetecível

e um ensejo de lume

sem saber que ardia

Desço sem pressa por onde andei

na idade antes desta idade

como viajante clandestino

sem rumo

no ventre azul da mocidade.

Era tudo bom e grande na promessa

o sol despontava como um dardo perdurável

e sem pressa desço por mim mesma

como duna estendida num lençol do areal

ou uma serpente.

 

Maria Isabel Fidalgo

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