Como um fósforo | Domingos da Mota

Vai de mal a pior este começo:

traçado o azimute, nesse rumo,

não quero estar na pele, pagar o preço

do frio que virá depois do fumo,

pois se fogo sem fumo não existe,

tanto fogo-de-vista, mesmo preso,

faísca como um fósforo que insiste

até que chega o dia em que, surpreso,

se descobre tão-só como um punhado

de cinzas a um canto da lareira­:

há começos assim; outros, assado,

e muitos quando atiçam a fogueira

não cuidam de saber o santo-e-senha

para ter no inverno alguma lenha.

 

Domingos da Mota

[inédito]

 

 

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