Inquieta-me a lucidez de certas horas.
Como dizer? Tudo nelas é perfeito
e claro e inabalável até à dor.
A realidade
põe-se a subir sorrateira pelo corpo fusiforme
de sonhos e desejos. Mata-os!
É perigoso viver desarmado
na lucidez das horas.
Quando menos se espera, morre-se!
Quero uma lanterna sempre atenta
entrar com ela no inexprimível sossego
que precede a tempestade.
Escutar o respirar aflito dos espaços
entre dois trovões, duas guerras, dois gritos
separados apenas por um filamento de cerda.
Uma área indeterminada
a que só por distração ou ignorância
chamamos silêncio.
Lídia Borges (pseudónimo)
poema incluído no livro “Baile de Cítaras” (2015)