Unya era uma mulher, física, quase religiosamente física – era, por isso, impossível não desejá-la e Unya sabia-o. Infelizmente, Unya também amava. Unya conheceu o amor da sua vida por acaso, num desses acasos onde é noite e muita gente se junta, onde se bebe um pouco, um pouco bêbadas as pessoas fumam muito e bebem um pouco mais. O seu amor não bebia. Unya sabia-o e, por apego a uma sua estranha tradição e medo de agoirar, bebia por todos os que, como o seu amor, não o faziam. Unya era uma pessoa que, naturalmente, articulava perfeitamente o seu corpo entre a dor e o prazer. Daí que gemesse duas vezes ao entalar um dedo.

João Silveira

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