Ainda há pouco mais de um mês comprei o “O Cemitério de Praga”. Aquelas primeiras páginas, a descrição de uma loja, uma espécie de antiquário propriedade de um velho judeu, a própria figura do homem, só aquelas duas páginas deixaram-me sem respiração. Li-as várias vezes, deslumbrada. O poder descritivo, o desenho do sentido de humor a cada palavra escrita, a intensidade da própria intenção, o humanismo, a universalidade, deixa-me prostrada e cansada, mas alegremente cansada e incansável, sôfrega e sedenta de mais palavras de Eco.
Nem sempre usando as mais fáceis e imediatas expressões ou as mais directas palavras ou as mais transparentes intenções, Umberto Eco conseguiu, apesar disso, apesar dessa dificuldade transpor o que é mais importante de tudo na literatura: ultrapassar e fazer respirar e fazer compreender não as suas próprias idiossincrasias mas as questões essenciais dos homens, as questões primevas da humanidade. Como está demonstrado à exaustão, só palavras não chegam. Aparentemente, talvez mesmo prolixo e com temas que talvez não interessassem ao vasto e indiferente público, a verdade é que Umberto Eco, com o seu livro “O Nome da Rosa” (publicado em 1980) chegou a todo o planeta e se houvesse mais planetas com leitores também lá chegaria. Era a História em movimento, a História cruzada num misto de romance policial, deslumbrante no seu subtil sentido de humor com milhões e milhões de exemplares lidos por ainda mais milhões de seres.
UMBERTO ECO foi escritor, filósofo, semiólogo, linguista.
Nasceu em Itália em 1932.
Morreu ontem, 19 de Fevereiro de 2016 aos 84 anos.
Cristina Carvalho
Fotografia via Flickr.
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