Ponto morto

Há um único cruzamento no deserto. No relógio de Sebastião os ponteiros mostram uma hora vaga.

“19h10m? 11h09m? 09h11m?”

— Escolhe o teu tempo. É agora!

Sebastião sai do carro, o motor em convulsão, envolto numa nuvem branca que se estende rumo ao azul.

Tem um cano encostado à cabeça. O estoiro sai.

Sebastião é grande e pesado. Tem a barba por fazer e a roupa mergulhada em suor. Cai do seu pedestal. Uma outra nuvem, esta de pó laranja, atormenta-se e rebola em todas as direcções.

E o carro suspende a avaria e arranca para o outro lado do cruzamento.

— Stop!

Visto do céu, Sebastião é apenas um ponto morto.

Bruno Barão da Cunha