Do autor de Somos o Esquecimento que Seremos e Receitas de Amor para Mulheres Tristes
Oculta é a visão íntima e transgressora de uma sociedade pujante e tradicionalista que confirma Héctor Abad Faciolince como um dos maiores escritores latino-americanos dos nossos dias.
«Emergi muito devagar à superfície do lago, tentando não fazer barulho. A minha boca aberta começou a engolir ar uma e outra vez, a toda a velocidade. Duas, três, cinco, sete vezes. O coração ribombava-me no peito como o bombo mais imponente de uma banda de aldeia. Ouvi vozes e insultos provenientes da casa. Vários feixes de luz perscrutavam o lago. Voltei a mergulhar. […] Não via nada debaixo de água, nem que abrisse os olhos: era uma barreira viscosa, negra, fria, que com a pressa de fugir parecia uma sopa de óleo que me untava os braços e as pernas e me obrigava a avançar devagar, por mais que os agitasse com todas as minhas forças.»
Assim começa um dos episódios mais dramáticos deste romance que gira em torno de La Oculta, uma propriedade escondida nas montanhas da Colômbia. Pilar, Eva e Antonio são os últimos herdeiros desta terra, que passou por várias gerações da família. Aí viveram os momentos mais felizes das suas vidas, mas também tiveram de enfrentar a violência e o terror, o desassossego e a fuga.
A partir das vozes dos três irmãos, do relato que fazem dos seus amores, medos, desejos e esperanças, com uma paisagem deslumbrante como pano de fundo, Héctor Abad Faciolince mostra as vicissitudes de uma família e de uma povoação, assim como o momento em que o paraíso está a ponto de se perder.
Héctor Abad Faciolince nasceu em 1958, em Medellín, na Colômbia, onde também fez os seus estudos – todos inacabados – de Medicina, Filosofia e Jornalismo. Após a expulsão da Universidade Pontifícia Boliviana (por causa de um artigo irreverente contra o Papa), mudou-se para Itália, onde se licenciou em Literaturas Modernas. Regressou à Colômbia, em 1987. Nesse ano, depois de os paramilitares assassinarem o seu pai, foi alvo de várias ameaças de morte. Refugiou-se novamente em Itália, onde exerceu o cargo de leitor de Espanhol na Universidade de Verona. De regresso à Colômbia, traduziu autores como Giuseppe Tomasi di Lampedusa e Umberto Eco, dirigiu a Universidade de Antioquia e deu início à sua carreira de escritor. Publicou vários romances, entre os quais Basura (Os Dias de Davanzati, em português), que lhe valeu o Primeiro Prémio de Narrativa Inovadora da Casa da América de Madrid. Além deste, a Quetzal publicou ainda Somos o Esquecimento que Seremos (Prémio de Literatura Casa da América Latina 2010) e Receitas de Amor para Mulheres Tristes.
Nota de Imprensa da Quetzal
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