Num estranho acidente, as mãos da menina Alice ficaram presas na porta do autocarro 35. Avaliadas as hipóteses de desencarceramento, os técnicos concluíram: melhor seria não arriscar. Posta ao corrente, concordou, tanto mais que lhe garantiam o mesmo ordenado do escritório, descontos para a Segurança Social, subsídio de refeição, pernoitas. E, ademais, sempre que quisesse, a família podia vê-la. A partir daí, dia e noite, a menina Alice e o 35 passaram a viver juntos: um casal, a bem dizer. A ocorrência tornou-se notícia, com cobertura mundial de televisões, rádios, jornais. A sorte grande para a menina Alice, que parecia condenada a passar a vida a teclar ofícios, mãos presas à velha Remington.

In O caçador de luas

Augusto Baptista

Augusto Baptista

Share
Published by
Augusto Baptista

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago