Cruzámo-nos na Rua de Cedofeita, fim de tarde de domingo, Junho passado. Eu distraído, de repente entrevejo, debaixo do braço, passando, um garrafão. Dentro, um carro de bois. Logo filei o passante. Que estava com pressa; se quisesse entrevista, o procurasse no dia seguinte, em casa. Anotada a morada, foi-se. Apressado. 

Dei por mim pasmado no passeio, tal qual o meu amigo Ivo Ferreira, homem do cinema, que na ilha do Príncipe decidiu permanecer um ano para tentar perceber “isso de um gajo ir ao fim da tarde para a rua arrastar o chinelo, com o seu chapéu, passear uma carcaça, uma carcaça cortada ao meio, sem nada lá dentro”. 

E, no Porto, o que fará um homem ir para a rua passear um garrafão?

(Continua)

Augusto Baptista

Augusto Baptista

Share
Published by
Augusto Baptista

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago

Marcos Barrero, poeta de coração paulistano | Adelto Gonçalves

I A exemplo do que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) disse do poeta argentino Rodolfo…

7 anos ago

Em homenagem a Cassiano Nunes | Adelto Gonçalves

                                                    I         Primeiro de uma série de cinco volumes, Poesia - Obra Reunida (Brasília: Universidade de Brasília/Thesaurus Editora,…

7 anos ago

Desvão de Almas, Miicrocontos, Editora Penalux, SP | Silas Corrêa Leite

O professor Silas Corrêa Leite, jornalista comunitário, conselheiro diplomado em direitos humanos, ciberpoeta e blogueiro…

7 anos ago