Prefácio
“É difícil resistir ao primeiro impulso de… sentir “inveja” do Domingos, da Francisca e do Mateus. Apesar de ser um sentimento que não se deve cultivar, como não ansiar pela possibilidade de sermos personagens activas em torno daquela magnífica mesa de ardósia, onde as refeições vão alternando com histórias nas quais o quartzo e o basalto adquirem o mesmo encanto e mistério dos príncipes e dos dragões?
Mas não nos deixemos enganar ficando a pensar que ao longo do livro vamos encontrar histórias infantis que servem apenas para passar o tempo que se leva a lê-las. Aliando o fantástico dom de contador de histórias, a uma enorme experiência de Professor construída ao longo de mais de meio século o Professor, que foi e será sempre, vai claramente contra a moda que infelizmente é tantas vezes dominante no Mundo actual, de achar que os jovens têm que ser cativados com “historinhas” simples e de fácil apreensão recheadas de banalidades. Em torno da velha mesa de ardósia, aos jovens netos não é ensinado que o quartzo é formado por “bolinhas” muito pequeninas que são os átomos, e que há uma mais “pequenina” de silício, por cada duas “maiorzinhas” de oxigénio. O Avô Professor não tem dúvida que os netos, apesar de muito jovens, têm capacidade para muito mais e que a verdadeira cultura científica tem que estimular o desejo de compreensão dos processos, não tendo nada a ver com o simples acumular de informações banais. Utilizando exemplos muito simples e fáceis de compreender (mas que só a sua experiência é capaz de imaginar), que vão desde o cubo de Rubik, à relação de forças entre manifestantes e polícias, os netos vão aprendendo a “arrumar” os átomos em malhas cristalinas… que existem vários tipos de malhas cristalinas… formadas por elementos químicos diferentes… e unidos por forças de diferentes intensidade e… e…
É esta preocupação em transmitir principalmente formação e não se ficar por meras informações, que torna este livro adequado para “miúdos” e “graúdos”, principalmente para alguns “graúdos” que têm por missão ensinar os “miúdos”… isto é… os Professores.
Por tudo isso é para todos nós uma enorme sorte que o Professor Galopim tenha resolvido partilhar a sua mesa de ardósia com os milhares de “netos” que somos todos nós que tiveram a sorte de ter sido seus alunos, ou pelo menos de ter assistido a uma das suas cativantes “conversas” tão cheias de sabedoria e de ternura. Estou certo que o Domingos, a Francisca e o Mateus não se importam de ter em torno da SUA mesa de ardósia mais uns quantos (muitos) “netos”. Afinal de contas, alguns destes “netos”, como eu, estão já a caminho de… serem “avós”, pois tivemos a sorte de ser alunos do querido Professor Galopim há quase 40 anos… e até já foram professores do Nuno e do Rui, os filhos do Professor!
Com muita amizade, um enorme obrigado ao Professor por nos ter convidado para a sua mesa de ardósia… e pela honra de me ter convidado para escrever este prefácio”.
Rui Dias
Professor da Universidade de Évora e director de Centro Ciência Viva de Estremoz.