A visão acromática de certos daltónicos é perigosa. Tende a ver na vida colectiva um interminável, estéril conflito entre o preto e o branco. Qualquer que seja a cor oculta sob o preto percebido pelo paciente, acontece que esta última, dominante, é a cor da fome e do ressentimento social – como ensinam os mais sábios e prudentes espíritos das nações. Daí a tornarem-se visíveis os potenciais indícios de anarquia e desagregação social resultantes de tão nefasta doença vai um passo. Convém, pois, manter debaixo de olho o olho do daltónico de visão acromática. De preferência, corrigir-lhe o enviesado olhar, convencendo-o de que é rica a realidade, diversa e matizada, plena de subtilezas que escapam a visão tão distorcida. A revelar-se impossível a correcção, impõem-se medidas drásticas, pois é sinal de que o paciente se tornou um ser inviável.

João Pedro Mésseder

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