Silêncio, antes. A primeira respiração. O corpo contrai-se devagar, suspende-se. As pálpebras duas vezes, devagar, a boca uma fenda delicada para

e fios de aço em trança explodindo súbitos numa maré violenta contra o centro do corpo, uma cortina de fogo descendo, cabelos, pescoço, medula.

Ele encolhe-se perante o som e fecha os olhos com força: encolhe-se para dentro, primeiro, para logo se expandir, os seus braços asas, o seu corpo voo.

Abre os olhos e dos lábios uma película de ar quase uma palavra. Quase amo-te, quase adeus (ou quero-te ou perdoa-me). A primeira respiração, ainda, o ar que o peito retém, fervendo.

O coração inteiro de uma só vez.

João Silveira

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