Manoel foi e continua sendo o grande amor da minha vida. Único, não tive outro. Até recentemente, quando ele disse que precisávamos conversar. Estranhei, ele estava calado, sério, sombrio. Outro homem, de repente. Fomos jantar fora.
Assim que entramos no restaurante, sentamo-nos de frente um para o outro. Havia um branco em seu rosto. Senti a angústia chegando, sei bem como vem, pressão, aperto, quentura, como se fosse uma pata de elefante estacionada no peito. Manoel me olhava com firmeza; essa coisa terna, de uma hora pra outra, sempre me deu medo. Acho que depois de voz baixa e doce, vem a crueldade. Girando o gelo no copo, e me encarando no fundo do olho, Manoel disse: “Quero me separar.”
Pela primeira vez senti morte instantânea. Me vi despencaando da janela e caindo feito puzzle na calçada. (Quem sabe compondo na eternidade uma paisagem tranquila?).
Lívia Garcia-Roza
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