O seu todo pensamento anda inclinado, nessa procura do que parafrasear com os dentes. Está aturdido por dentro, mesmo sem fomentar brusquidão no corpo ou misturar altitudes. Um pé só é possível trás outro mais firme, quando em plena boca se exerceu uma mastigação demorada, um repasto ou parte dele. Esse pastoso fogo esculpe milagrosamente sem uso de mãos e utensílios rijos, uma pessoa em estado vertical, inserindo-lhe vontades de desencostar-se do assombramento da magreza, de desaçaimar-se e galgar com alento um qualquer arruamento só porque se consegue espaçoso fôlego. Há sustento para fazer prosperar na panela? Indaga-se, molemente. Há um amar-se essa cheieza de tacho em fervura num recanto de casa, cheiro que depois se come; é esse amar parecido a estar-se descaído sobre uma mulher estendida sem vestido, parecido a apreciar no céu o abarrotar-se de alaranjados no meio de riscos de chumbo, tudo rubores que descem ao corpo e o alagam sem o atestarem como o arame da comida o faz nas articulações e nos ossos. É na praça funda no começo da barriga, onde se estabelecem as querenças. Neto de muita trituração entre gengivas, até o maior poema é lá que acorda. Diz-me, com fome de roer a vida como me atarei ao que tens nos olhos Maryam, senão com uma atazanada doçura já em fios de inutilidade.
Gabriela Ludovice