Há dias em que eu gostaria de saltar para uma língua estrangeira, como quem mergulha na Baía de Halong. Vietnamita, dinamarquês, turco, tupi, tibetano ou mesmo japonês. Há dias em que eu gostaria de nadar em uma língua estrangeira como uma orca nas águas geladas da Antártica. Há dias em que eu gostaria de falar de mim em uma língua estrangeira, em que, de tão estranha, eu não pudesse antecipar afetos, cores, pensamentos, estradas, amores que ela fosse provocando em mim ao falar – até mesmo – de mim. Há dias em que eu gostaria que falar de mim fosse falar de paisagens estrangeiras em uma língua jamais ouvida que eu tivesse de falar subitamente pela primeira vez. Há dias em que eu gostaria de falar de mim com a sensação de um iaque ao atravessar um despenhadeiro do Himalaia. Há dias em que eu gostaria de não me reconhecer em nada na língua em que falo.
Alberto Pucheu
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