Afinal uma bala é só o começo do barulho nos olhos. Este ruído é provocado pelo silêncio de quem se está a afastar depois que deixou uma bomba na concha das mãos de alguém. Arredamo-nos. Não se fica para dar arrimo moral a quem se deve matar. Não se fica sequer a uma distância satisfatória para lhe acercar palavras de agasalho, caso ainda oscile. O ideal é desaparecer-se na mata como uma lebre que acossa a vida, deixando-se na retirada apenas o movimento da folhagem a estremecer na visão de quem ficou e segura a bomba, ainda naquela agitação amorosa de que só pode ser uma flor, isto que entre dedos lhe sobeja do mundo.

Gabriela Ludovice

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