O rosto de Santiago era fustigado por uma brisa que lhe picava a pele. Cheirava a frio e a abetos numa corrente fina e gelada que se entranhava nas narinas. Aquele Fevereiro agasalhava os condutores com promessas de uma baixa pressão mais tiritante do que o sopro da própria morte. Algures um termómetro reflectia límpidos raios de sol, quase tremendo aos meros -5ºC que indicava. Não havia sinal de nuvens no horizonte. Não havia horizonte. Apenas uma estrada que serpenteava a montanha entre árvores despidas, expondo-se aos últimos raios do sol de Inverno.

Foi então, nesse cenário de indubitável carácter montanhês, que, saindo disparado de uma curva, um camião em rumo descendente invadiu a faixa de rodagem de Santiago.

Ainda hoje, passados uns bons anos, há quem jure ter avistado um grande pássaro vermelho a voar sobre o vale daquela montanha. Não há registos do seu poiso em parte alguma.

Bruno Barão da Cunha

Bruno Barão da Cunha

Share
Published by
Bruno Barão da Cunha

Recent Posts

Gonçalo M. Tavares vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018

Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira devido à "originalidade da sua obra…

7 anos ago

Gente Lusitana | Paulo Fonseca

Cornucópia rosada de carne palpitante… com neurónios, comandada puro arbítrio, caminhante… Permeável, errante… de louca,…

7 anos ago