O rosto de Santiago era fustigado por uma brisa que lhe picava a pele. Cheirava a frio e a abetos numa corrente fina e gelada que se entranhava nas narinas. Aquele Fevereiro agasalhava os condutores com promessas de uma baixa pressão mais tiritante do que o sopro da própria morte. Algures um termómetro reflectia límpidos raios de sol, quase tremendo aos meros -5ºC que indicava. Não havia sinal de nuvens no horizonte. Não havia horizonte. Apenas uma estrada que serpenteava a montanha entre árvores despidas, expondo-se aos últimos raios do sol de Inverno.
Foi então, nesse cenário de indubitável carácter montanhês, que, saindo disparado de uma curva, um camião em rumo descendente invadiu a faixa de rodagem de Santiago.
Ainda hoje, passados uns bons anos, há quem jure ter avistado um grande pássaro vermelho a voar sobre o vale daquela montanha. Não há registos do seu poiso em parte alguma.
Bruno Barão da Cunha
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