Na vida onde sou quem canta a verdade, existem flores nocturnas que se abrem à luz dessa mesma verdade e tudo nos é ofertado por anjos. Neste lugar, não penso morrer em pleno Carnaval. Mas o que revelo ao mundo serve para desfilar neste carnaval interminável – o quotidiano dos sonâmbulos comandados pelo grande Rei Mercado e suas alegorias de tortura. Desfilo nas minhas vestes encomendadas nos subúrbios e minha boca finge entoar as barbaridades que, para meu grande pasmo, não chocam os púdicos nem enchem os depósitos dos depravados. Meus olhos, encobertos pela máscara, suam gotas de sangue. Esta vida de carnaval ferido valerá umas moedas de cobre? Farinha, grão, uns enlatados, azeite, pão, e alguns luxos. Sei lá, patê e vinho?
Marcela Costa