Era 6ª-feira. Eu pedira aos alunos que escrevessem as palavras de que mais gostassem. Expliquei o melhor que pude que não me referia ao significado mas à beleza fonética. Um dos que não perceberam foi o Fernando. (Quando ele nasceu, o pai disse-me: “Sou pai de doze. Morreram dois, tenho nove.) No domingo seguinte, uma onda inesperada levou-o. O mar nunca o devolveu. Na 2ª-feira, estávamos todos menos vivos. Fui ver que últimas palavras escritas teriam sido as suas. Nem sequer fizera ponto final nem assinara o nome na folha. Estava lá isto: “As palavras de que eu gosto mais são pai mãe irmãos amigos e vida”

Daniel de sá

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