Todas as noites, o marujo senta-se à mesa de costume. Não troca palavras conosco: volta toda sua atenção para a ratazana, que salta do bolso da sua japona. É o sinal para que o garçom lhe sirva uma cerveja e grãos de milho ao animal.
Enquanto bebe, o marujo contempla-a fascinado e alisa o seu pêlo sedoso. A ratazana, terminando de comer, retribui com cabriolas, que muito nos divertem. Depois, o dono do bar põe um disco na vitrola, e o homem dança com o animal entre os braços.
Contudo, há dias em que a ratazana se recusa a sair do bolso da japona, ou se esconde sob a boina do marujo. Uma noite, incomodada pela solicitude do companheiro, chegou a mordê-lo brutalmente. Mas é uma exceção nos hábitos deste animal, que, via de regra, tem comportamento exemplar, alimentando-se com evidente prazer ou correndo o salão nos braços do marujo.
Álvaro Cardoso Gomes